Aí você começa a se interessar por livros e por literatura e filosofia e as ciências e saberes e enciclopédias, a comunidade acadêmica e coisas assim, começa a sentir às vezes uma espécie de angústia, de insegurança ou insatisfação, um afobamento para ler vários livros, para conseguir discutir os livros e citar os autores e entender todas as referências que os autores de livros e as pessoas que gostam de livros fazem o tempo todo sobre os livros que foram importantes pra elas ou praqueles autores, livros que foram bons e sem os quais esses outros livros talvez não tivessem sido escritos e sem os quais aquelas pessoas não estariam discutindo isso (os livros, os autores e livros que serviram de referências pra eles). E às vezes você busca uma referência dessas e encontra um livro um pouco mais antigo ou muito mais antigo, de um país diferente ou do mesmo em uma livraria ou biblioteca ou na internet ou às vezes na rua até (eu tenho um amigo que sempre acha bons livros na rua, muita sorte a dele (o ruim de livros encontrados na rua é que se eles fazem alguma referência a algum outro livro, dificilmente você vai achar esse outro livro assim pelo chão também, mas não tem tanta importância. A gente, que gosta de livros e de referências, tem sempre que diversificar as fontes de onde obtemos os livros e onde consultamos as referências)). Mas os livros referenciados sempre fazem referência a outros livros e outros autores e são muitos os livros e os autores de modo que se você começar a procurar e ligar e mapear as referências, você sempre começa a criar um caminho comprido, tortuoso, interminável, às vezes sem saída, às vezes cíclico, como um grande labirinto, como as cartografias da Biblioteca de Babel. De modo que essas pessoas que gostam de livros (nós, vós, eles) sentem às vezes essa angústia, essa certeza de incompletude e a sensação de que você nunca vai ler todos o livros que quer ler, nem metade, nem um décimo mesmo, até porque quanto mais você lê, mais referências os livros e os autores fazem a outros livros e outros autores e mais você quer ler e não importa o quão avidamente você leia, a lista de livros a ler sempre cresce muito mais rapidamente que a lista de livros lidos.
E apesar de todas essas sensações descritas em palavras sobre livros escritos com palavras que têm palavras que referenciam outros livros e outras palavras (e possivelmente até blogs) - essas sensações sobre todas essas palavras (que nem são tantas assim, há certamente muito mais livros do que há palavras) se tornam por vezes tão intensas e tão inebriantes e entorpecentes, na medida em que o desejo de ler todos esses livros e de estar com eles e saber o que eles dizem e ser capaz de fazer referências a eles e entender todas as referências que eles fazem, ou que as pessoas que lêem e gostam de livros fazem - que ela (a sensação de angústia e impotência diante do mar de livros e referências que cresce e se acumula em relação à lista de livros lidos numa relação terrivelmente malthusiana) implode o sistema significativo-simbólico da pessoa que gosta dos livros e se torna uma pura sensação elementar, além-aquém de palavras e livros, e a pessoa entra em uma boa livraria (como a blooks) aos gritos e rasga a roupa como um selvagem enlouquecido batendo-se furiosamente, de modo que os funcionários educados e polidos não a conseguem segurar e impedir que tire as roupas e pare de gritar - senhor, por favor, senhor, o senhor está incomodando os outros clientes, calma senhor, senhor pode colocar suas calças de volta por favor, senhor, por favor, pare de gritar senhor - e os seguranças e os outros clientes ficam parados, detidos, meio em choque, meio tomados pelo riso, e a pessoa que gosta de livros, agora insandecida e nua e selvagem, despossuída de seu sistema simbólico-significativo, começa a copular furiosamente com as prateleiras de livros e se joga ofegante sobre os mais vendidos, rola com languidez sobre as novidades, lambe e morde e rasga a seção de artes e os quadrinhos, tenta preencher com o máximo de livros de bolso o vão entre as nádegas e enfia furiosamente o pênis nos espaços vazios da literatura. (Se fosse uma mulher, certamente teria mais sucesso em usar os livros para seu ato sexual, atingindo níveis de lubrificação inéditos com as capas dos livros de filosofia francesa contemporânea). Os seguranças, assistentes e espectadores ficam naturalmente parados em choque e não sabem mais se chamam a imprensa, compram pipoca, fazem alguma coisa para deter o homem que gosta de livros (ou a mulher, no caso dos livros de filosofia francesa contemporânea) (agora fazendo uma massagem erótica nas publicações acadêmicas nacionais) ou se se juntam a ele (ela) como intuem, sabem, pensam, cogitam no fundo no fundo que fundo, que é o que querem fazer.
E apesar de todas essas sensações descritas em palavras sobre livros escritos com palavras que têm palavras que referenciam outros livros e outras palavras (e possivelmente até blogs) - essas sensações sobre todas essas palavras (que nem são tantas assim, há certamente muito mais livros do que há palavras) se tornam por vezes tão intensas e tão inebriantes e entorpecentes, na medida em que o desejo de ler todos esses livros e de estar com eles e saber o que eles dizem e ser capaz de fazer referências a eles e entender todas as referências que eles fazem, ou que as pessoas que lêem e gostam de livros fazem - que ela (a sensação de angústia e impotência diante do mar de livros e referências que cresce e se acumula em relação à lista de livros lidos numa relação terrivelmente malthusiana) implode o sistema significativo-simbólico da pessoa que gosta dos livros e se torna uma pura sensação elementar, além-aquém de palavras e livros, e a pessoa entra em uma boa livraria (como a blooks) aos gritos e rasga a roupa como um selvagem enlouquecido batendo-se furiosamente, de modo que os funcionários educados e polidos não a conseguem segurar e impedir que tire as roupas e pare de gritar - senhor, por favor, senhor, o senhor está incomodando os outros clientes, calma senhor, senhor pode colocar suas calças de volta por favor, senhor, por favor, pare de gritar senhor - e os seguranças e os outros clientes ficam parados, detidos, meio em choque, meio tomados pelo riso, e a pessoa que gosta de livros, agora insandecida e nua e selvagem, despossuída de seu sistema simbólico-significativo, começa a copular furiosamente com as prateleiras de livros e se joga ofegante sobre os mais vendidos, rola com languidez sobre as novidades, lambe e morde e rasga a seção de artes e os quadrinhos, tenta preencher com o máximo de livros de bolso o vão entre as nádegas e enfia furiosamente o pênis nos espaços vazios da literatura. (Se fosse uma mulher, certamente teria mais sucesso em usar os livros para seu ato sexual, atingindo níveis de lubrificação inéditos com as capas dos livros de filosofia francesa contemporânea). Os seguranças, assistentes e espectadores ficam naturalmente parados em choque e não sabem mais se chamam a imprensa, compram pipoca, fazem alguma coisa para deter o homem que gosta de livros (ou a mulher, no caso dos livros de filosofia francesa contemporânea) (agora fazendo uma massagem erótica nas publicações acadêmicas nacionais) ou se se juntam a ele (ela) como intuem, sabem, pensam, cogitam no fundo no fundo que fundo, que é o que querem fazer.
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