26.4.19

Poema Para o Jovem Rapaz Branco Que Me Perguntou Como Eu, uma Pessoa Culta, Inteligente, Poderia Acreditar na Guerra Entre Raças, de Lorna Dee Cervantes


Na minha terra não há distinções.
A política de arame farpado da opressão
foi derrubada há muito tempo. A única recordação
de batalhas passadas, perdidas ou vencidas, é um ligeiro
roçar nos férteis campos.

Na minha terra
as pessoas escrevem poemas de amor,
cheios de nada além de contentes sílabas infantis.
Todo mundo chora lendo contos russos.
Não há fronteiras.
Não há fome, nem
escassez complicada ou ganância.

Eu não sou uma revolucionária.
Eu nem mesmo gosto de poemas políticos.
Você acha que eu posso acreditar em uma guerra entre as raças?
Eu posso negá-la. Eu posso esquecê-la
quando estou segura,
vivendo no meu próprio continente de harmonia
e casa, mas não estou
lá.

Eu acredito em uma revolução
porque há cruzes queimando por toda parte,
milicos exímios atrás de cada esquina,
há franco-atiradores nas escolas...
(Eu sei que você não acredita nisso,
Você acha que isso não é nada
Além de exagero caprichoso. Mas eles
não estão atirando em você.)

Eu sou marcada pela cor da minha pele.
As balas são discretas e projetadas para matar devagar.
Estão mirando nos meus filhos.
Isso são fatos.
Deixe-me mostrar minhas feridas: minha mente vacilante, minha
Língua de “me desculpe”, e essa
preocupação insistente
com a sensação de não estar sendo boa o suficiente.

Essas balas enterradas mais fundo que a lógica.
O racismo não é intelectual.
Não posso contra argumentar estas cicatrizes.

Do outro lado da minha porta
há um inimigo real
que me odeia.

Eu sou uma poeta
que anseia dançar sobre os telhados,
sussurrar delicados versos de deleite
e sobre as bênçãos do entendimento humano.
Eu tento. Eu vou para a minha terra, minha torre de palavras e
tranco a porta, mas a máquina de escrever não abafa
os sons de explosões e ultraje contido.
Os meus próprios dias trazem tapas no rosto.
Todo dia sou inundada com recordações
de que esta não é
minha terra

e esta é minha terra.

Eu não acredito na guerra entre raças

mas neste país
a guerra existe



(traduzido de Lorna Dee Cervantes. Emplumada. University of Pittsburgh Press, 1982)

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