16.11.24

a substância

a substância dos meus sonhos
é a presa de uma rede informe

às vezes
tem o tamanho do teu corpo
às vezes as ranhuras do infinito

abaixo do mundo tudo
ao lado de mim tu
esfinge
quimera
mãe
pai
édipo
narciso

e além disso
tua voz, que diz coisas que me maravilham
coisas que não compreendo

e obedeço

16.10.24

Outra arte

a arte de substituir não requer treino
tantas coisas parecem querer perder-se
e outras se enfileiram pra tomar o seu lugar

todo hoje substitui um ontem. Aceite o
farfalho da chave perdida, a hora mal gasta,
Atrás de uma nova porta, outro relógio

Pratique substituições selvagens
carne por melancia, troque de emprego
a vida segue, não é segredo

Perdi minha mãe e aprendi trompete,
olha só! tantas coisas se foram
não é difícil achar outras

mudei de cidades, em cada nova encontro a antiga. Todas se parecem com Niterói, há sempre uma rua das pedras

Mesmo você, quando se foi (voz
risonha, gesto amado), não
vou mentir. Outros rostos virão, outros corpos, é simples,
ainda que pareça (escreva!) desastre.

8.6.24

Ponto 5, notas

 

Íntimo e marginal

 

 

            Roberto Piva encostado numa esquina da Lapa, sopra no ouvido de Wally Salomão

            Será que esse poema da Ana C. é pra mim

            O endereço nesse texto é o menos

            O texto é o endereço

            Na tensão na descarga de energia estática (no barato fundamental que a língua dá)

            da palavra

            (no barato fundamental que a língua dá (l.))

 

            No final dos anos oitenta, no fim do terror nuclear

            O terror econômico, o terror da caretice reinante

            Fim de história

 

            Não podia o bigode distante em Domeneck, baxuzíaco

            Aleixo, Ricardos de identidade negada, feita crise de versos

            Angélica F. pega o celular e faz uma busca no google

            Veja bem, Angélica F.

            Isso foi um story?

            (A poesia já pensou essa documentação?

            A musa pop Ana C. só teve um vídeo lendo Samba Canção no qual qualquer pessoa que minimamente teve algum siso tem que se apaixonar

           

           

Os nervos da língua

            O linguado imagético de Ricardo Domeneck

            A volta da imagem, cansada de perambular, deambular pelacidade

            A língua irritada

            O corpo material 

            A animalidade

            (De fato, Florencia Garramuño observa na nova poesia essa sensibilidade corporal, a busca da percepção imediada, em oposição aquilo que se vinha chamando na contemporânea teoria da poesia contemporânea - A teoria da poesia nos diálogos crítico-poéticos[1] - Célia Pedrosa Marcos Siscar – a diferença, a crise a diversidade -  Heleine Fernandes,

           

            A tensão da comunidade da incomunidade

            Individualidade, igualdade, ideologia

            Esse tempo que se considera o contemporâneo é o tempo do indefinido, do impróprio    

            E, na poesia brasileira, também se dá conta de que nessa língua, nesse país ou nessa troca de países (brasil, portugal, (angola, moçambique, guiné-bissau – a música, Mayra Andrade - )

 

À língua de um pé de planta, de um pé de chá

            A poesia da arte indígena contemporânea

            Denilson Baniwa e Ellen Lima dialogando com Mário e Oswald de Andrade

            A volta dos que não foram

 

            O último livro do primeiro livro de poemas de Ana Assis

            Que talvez não precise mais do Carolina,

            Como Ana, que ficou só com o C



[1] (a poesia universitária – Paula Glenadel, Edmilson Pereira de Almeida, Paulo Henriques Britto, Franklin Alves Dassie, Heleine Fernandes, Rafael Zacca)

 

31.8.23

 

a regra e a norma
a regra vem vermelha
a norma, morna
com sangue, calor
às vezes chega a sufocar

3.6.23

 

Sat Aug 13 10:19 PM 2014


Acho que começo a entender.

É que na verdade eu sou mau. Nós somos maus. Os filósofos, os escritores, os psicólogos 

somos pessoas de mau caráter que, incapazes de expressar nosso mau-caratismo pela ordem boa 

e pura da sociedade, nos entregamos às formas mais baixas de vida 

e aos prazeres fáceis como a solidão e o sexo. 

Tomados então por ondas de má consciência, aliadas 

à pulsão de morte, deslocada do eu para aquela ordem social que agora nos reprime, nos entregamos 

a esse outro vício fácil que é a escrita. p/// 

compartilhamos aquele conhecimento íntimo do mau 

depurado em visões, descrições, 

comportamentos, 

interpretações com uma constante ironia de quem sabe que mostra aquilo que é sua mais profunda verdade 

crimiminosa, dentro de ritos e convenções que o legitimam.


 Uma opção para os que querem ser maus. 

Os que não gostam das regras

 da civilização, da vida em comum. Os que querem ver a humanidade retroceder.



Os exercícios de auto destruição pela culpa passam sempre por um momento de entrega

 a um impulso auto-masoquista, uma descrição crua e sádica dos próprios erros, uma elaboração da culpa

até atingir um ponto em que se acredita ter atingido pelas palavras o sentido do próprio sentimento, 

da própria dor e arrependimento. mas também o de uma justificativa. 

                                                                                                                O ato da confissão 

supõe 

uma 

crença 

de

que

 o

 ato

 em

 si

, a descrição dos próprios pecados diante de Deus (de uma sua testemunha) o converte de alguma forma em

 

 

 

 

 uma certa positividade para o espírito, para a “comunhão dos santos”, esse 

    depósito de boas ações para os que querem ser salvos no dia do julgamento final.



É difícil escrever quando não se está sozinho. A consciência da própria miséria n

    ecessária ao ato, a p

rofundidade do vazio onde habita a verdadeira bele

                        za é tão embaraçosa diante

Dàs interações sociais que o escritor precisaria de fato 

ou confiar completa e intimamente naqueles com quem convive ou tornar-se frio e pragmático 

relacionando-se de forma mecânica com as pessoas - o que provavelmente levaria,

 em última instância