(Jean-Luc Nancy)
Ó Tigre ó Jacaré
um para o outro nem
amigo nem rival
cruéis indiferentes
soberanos se encontrando por acaso
não através da
caça nem do capricho dos homens
zoológico ou
fantasia doméstica
fantasia fantástica
face a face em ignorância
puros cruéis
inocentes
serrando maxilares
moldura ossuda jogo violento
longo torpor
indolente
sono imersivo
e despertar
repentino
como se chamados por
uma corneta
um sinal um alarme
um grito um cheiro
um ruído uma brisa
um inseto ou cobra
pulsação de presa
ou ameaça
morte pulsante ou
morte indiferente
sacrifício sem
ídolo
sem altar sem
ritual
sacrifício à
vida voraz
aos deuses vivos
de devoramentos férteis
aos deuses de
mundos antigos
tigre o deus
vingador jacaré o colérico
não conhecem
vingança ou raiva
ó tão impecável
selvageria salvo barbaridades
salve guerra paz
dilema
poderes idênticos
a si mesmos
mesmo não os
mesmos
vivendo fora de
seus nomes
fora das línguas
que os nomeiam
esses nomes que
rugem e bocejam
esses nomes de
dentes afiados
bocarras de
garganta quente
garras e papos
escamas e listras
todas
essas palavras animais
que
eles não aprenderam
nem
entenderam ou engoliram nem devoraram ou digeriram
eles
nos seus nomes não neles os seus nomes
nomes
que tremulam fora de bandeiras tochas ideias imagens
nada
para comer nada para arranhar nada para ceder
mas
rosnando saltando mordendo
formas
de ferocidade chamadas pelo nome
Tigre
Jacaré
mais
que seus nomes verdadeiros
seguindo
sua fome
seguindo
o que te convém
sem
se preocupar com esplendores
casaco
suntuoso couro escamoso luxos não-sonhados
luxo
massivo irradiando
figuras
de um velho mistério
de
profusão viva
um
mistério de origens na prolífica profusão de gêneses
de
genes de gerações
de
cruzamentos de seleções de mutações
de
julgamentos de erros e sucessos
em
famílias espécies variedades
através
de espécimes raras os grandes solitários
senhores
dos rios e florestas
nascidos
somente para este domínio senhorial
Tigre
Jacaré
soberanos
por seu encanto somente
por
suas corridas por seus saltos
por
seu sono saciado por seu despertar
por
sua fúria sua coragem sua glória
que
nossas línguas
tentam
formar em rimas rudes
rangendo
arranhando rugindo
repetições
retumbantes
ásperas
torções da língua
língua
por trás de palavras
na
sua boca que ruge e que chora
murmura
geme uiva
grita
de sua garganta entupida de lágrimas
sua
garganta tigraré sua garganta
mas
não menos a minha não menos
no
fundo da qual esses nomes que você desconhece fazem signos
que
te celebram que te honram
orações
rituais
ritmos
de adoração
da
garganta à barriga e nos pulmões
coração
fígado nervos e tendões
proclamam
as farpas brilhosas de seus nomes
Tigre
Jacaré
suas
invocações selvagens
que
fazem de vocês em mim os deuses
os
antigos os terríveis
íntimos
do impossível
traduzido de
http://supercommunity.e-flux.com/texts/oh-the-animals-of-language/
versão 1.2 (onça no lugar de tigre)
http://supercommunity.e-flux.com/texts/oh-the-animals-of-language/
versão 1.2 (onça no lugar de tigre)
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